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TEMPESTADES DA ALMA

Assim como um mar revolto, as emoções dentro de mim consomem a minha alma. Há sentimentos contraditórios e lamentos constantes, como uma avalanche de incertezas. Não sabemos ao certo quando essa tempestade irá passar, nem quando os dias de calmaria enfim chegarão.
Existem sentimentos que não ouso compartilhar, permanecerão para sempre guardados em meu coração, impedidos de ver a luz da liberdade.

Carrego dentro de mim uma guerra silenciosa, travada entre o que sinto e o que demonstro. Sorrio por fora, mas por dentro gritam dores que ninguém ouve. Há momentos em que o silêncio é o único refúgio seguro, porque as palavras já não têm força para expressar tamanha confusão interior. E mesmo quando a noite cai e tudo parece repousar, minha mente continua desperta, vagando por memórias que insistem em não me deixar.

Às vezes me pergunto se um dia a alma encontra repouso ou se estamos todos apenas fingindo controle enquanto afundamos lentamente. O peso daquilo que não é dito se acumula como pedras no peito, e cada pensamento se torna mais uma onda que ameaça me afogar. Há lágrimas que não caem, mas queimam por dentro. Há saudades que doem, mesmo sem nome ou direção.

Porém, no meio de toda essa dor, ainda  há uma esperança frágil, mas viva. Uma voz suave, quase imperceptível, que sussurra que a tempestade não é eterna. Que por mais longa que seja a noite, o sol sempre encontra um jeito de nascer outra vez. Talvez a paz não venha como um furacão de alívio, mas como um sopro, um momento de clareza em meio ao caos.

Eu sigo em frente, mesmo sem saber exatamente para onde. Cada passo é uma vitória silenciosa. Cada manhã, um recomeço. Não tenho todas as respostas, e talvez nunca tenha, mas aprendi que a coragem nem sempre é um grito de guerra, às vezes, é apenas a decisão de continuar respirando, de levantar mais uma vez.

E mesmo que existam sentimentos que jamais verão a luz, que fiquem trancados nas profundezas do meu coração, isso não significa que estou perdido. Talvez, com o tempo, eu aprenda a transformar a dor em força, e a fazer das cicatrizes marcas de superação, não de derrota.

No fim, sei que mesmo as águas mais agitadas um dia se acalmam. E quando isso acontecer, talvez eu consiga olhar para trás e ver que, apesar de tudo, sobrevivi. E sobreviver, às vezes, é o ato mais corajoso que existe.

E quando tudo parece desmoronar ao redor, percebo que a força que me sustenta não está nas circunstâncias, mas em algo mais profundo talvez na fé silenciosa de que existe um propósito até mesmo na dor. Não é fácil enxergar sentido quando tudo em nós clama por respostas imediatas, mas há uma sabedoria misteriosa no tempo. Ele não cura tudo, é verdade, mas revela o que precisa ser visto com os olhos da alma.

Aprendi que há feridas que não se fecham completamente, mas se tornam mais suportáveis quando aceitamos que algumas partes de nós foram feitas para doer  não como punição, mas como lembrança de que somos humanos, sensíveis, vivos. Sentir não é fraqueza. Chorar não é rendição. É apenas um sinal de que algo dentro de nós continua lutando para não se perder.

E mesmo quando a esperança parece distante, como uma estrela solitária em meio à noite escura, é ela que me guia. Porque há algo sagrado na persistência. Algo que desafia o caos ao continuar acreditando que dias melhores virão. Não sei quando. Não sei como. Mas preciso acreditar, ainda que com fé trêmula e coração cansado.

Há noites em que converso comigo mesmo em silêncio, tentando entender os motivos por trás de tudo. Pergunto a Deus o porquê de certos caminhos, o peso de determinadas perdas, o motivo de algumas esperas. E embora muitas vezes o céu permaneça em silêncio, ainda assim sinto que Ele me ouve. Talvez a resposta não venha em palavras, mas em pequenos sinais: no nascer de um novo dia, no abraço inesperado, no respiro que me faz seguir.

Aprendi também que nem todas as batalhas precisam ser vencidas com pressa. Algumas são travadas pouco a pouco, no ritmo que a alma aguenta. E tudo bem não ser forte o tempo todo. Há beleza na vulnerabilidade, e há crescimento no reconhecimento da própria fragilidade.

Em meio a tudo isso, compreendo que há um convite escondido na dor, um chamado para olhar para dentro e descobrir quem sou, além do que sinto. Porque minhas emoções não definem meu destino. Elas são apenas parte do caminho. E mesmo que o mar esteja agitado, meu barco não está à deriva. Há uma direção. Ainda que invisível aos meus olhos, ela existe.

Talvez a verdadeira liberdade não esteja em escapar das tempestades, mas em aprender a dançar com a chuva, a encontrar sentido mesmo nos dias nublados. Porque enquanto o coração bate, ainda há chance de recomeçar. Ainda há espaço para florescer, mesmo depois do inverno mais rigoroso.

E assim sigo, com passos inseguros, mas com a alma aberta ao que virá. Carrego dentro de mim não apenas dores e cicatrizes, mas também sonhos que ainda não morreram, esperanças que insistem em brotar. E se hoje ainda chove dentro de mim, sei que amanhã pode nascer um sol que ilumina tudo o que agora parece perdido.

Mesmo os dias mais escuros não conseguem apagar por completo a luz que carrego dentro de mim. É uma chama tímida, mas viva. Uma resistência silenciosa que insiste em continuar acesa, mesmo quando os ventos da dor sopram com fúria. E é essa chama que me faz levantar, mesmo depois de cada queda, mesmo quando tudo em mim grita para desistir.

Tenho aprendido que o caminho da cura não é uma linha reta. É uma estrada cheia de desvios, pausas e recomeços. Às vezes, é preciso reaprender a respirar, a confiar, a se permitir ser cuidado. Outras vezes, é necessário apenas parar e reconhecer: Quando  não estou bem, mas estou lutando. E isso já é suficiente, isto é coragem.

Em alguns momentos, encontrei conforto onde menos esperava em uma palavra simples, em um olhar compreensivo, em um gesto de ternura. Pequenas coisas que, para muitos, passam despercebidas, mas que para mim foram como abrigo em meio à tempestade. Foi nesses momentos que percebi que não estamos completamente sós, mesmo quando a solidão nos visita. Há mãos estendidas, ainda que silenciosas. Há amor, ainda que sutil.

Com o tempo, compreendi que guardar certos sentimentos não é covardia. Às vezes, é um mecanismo de sobrevivência. Nem tudo precisa ser exposto. Há dores que só Deus compreende, há gritos que apenas Ele escuta no silêncio mais profundo da alma. E é nele que  eu deposito o que não consigo dizer a ninguém. Porque sei que ele entende o que as palavras não alcançam.

E assim, entre quedas e reerguimentos, entre lágrimas e sorrisos tímidos, vou me reconstruindo. Um pedaço por vez. Com mais cuidado, com mais verdade. Já não busco mais me encaixar em expectativas alheias. Quero apenas ser fiel ao que sou, com todas as minhas nuances, com minha luz e minhas sombras. Porque ser inteiro não é estar sempre bem, mas ser verdadeiro em cada estação da vida.

A tempestade, aos poucos, começa a se dissipar. Não porque tudo se resolveu, mas porque dentro de mim começa a nascer uma paz que não depende das circunstâncias. Uma aceitação serena de que não preciso entender tudo para seguir em frente. De que a vida, mesmo com suas dores, ainda é sagrada. Ainda vale a pena.

Agora, quando olho para dentro, vejo uma alma que amadureceu na dor, mas que se recusa a endurecer. Vejo uma história sendo escrita com lágrimas, sim, mas também com fé. Uma fé que, mesmo pequena, move montanhas invisíveis.

E assim encerro esta reflexão, não como quem termina, mas como quem recomeça. Porque cada fim é também um novo ponto de partida. Levo comigo as marcas, os aprendizados e a certeza de que, apesar de tudo, continuo aqui. Vivo. Sentindo. Esperando. E, sobretudo, acreditando que dias de sol sempre voltam.

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