ENTRE SONHOS E REALIDADES
Por vezes, me pego pensando como seria se o tempo pudesse retroceder, levando-me de volta a alguma estação já vivida. Fico imaginando-me do jeito que era naquela época, com os mesmos sonhos, os mesmos anseios e a leveza de quem ainda não conhecia todas as marcas que o tempo deixaria. Mas logo retorno à realidade presente e percebo que essa pessoa que fui já não existe mais. O tempo, impiedoso, levou-a para sempre. Restaram apenas fragmentos, memórias dispersas que ainda ecoam, mas que já não formam a totalidade de quem eu era.
Hoje, a única certeza que me acompanha é o presente. É nele que me movo, que respiro, que enfrento os desafios e celebro as pequenas conquistas. O futuro, por outro lado, é uma paisagem nebulosa, um horizonte distante onde meus sonhos, às vezes, parecem abstratos e inalcançáveis. Há dias em que o futuro é um território fértil, cheio de possibilidades. Em outros, é apenas um espaço vazio, uma miragem onde a incerteza reina e os desejos parecem se dissolver antes mesmo de tomarem forma.
Quando olho no espelho, vejo mais do que a minha imagem refletida. Vejo o peso de tudo que já vivi, as cicatrizes invisíveis que o tempo deixou, mas também percebo as marcas que carregam histórias, lições e momentos que fizeram meu coração transbordar. Há um misto de nostalgia e perplexidade. É como se uma parte de mim quisesse voltar e abraçar o que já foi, enquanto outra compreendesse que o caminho segue em frente e que o passado, por mais precioso que tenha sido, não pode ser revivido.
Essa dualidade de sentimentos desordena minha mente. A nostalgia me envolve com uma doçura agridoce, enquanto a realidade presente me desafia a permanecer firme. Percebo, então, que viver plenamente é aceitar esse fluxo constante, onde o passado se torna memória, o presente exige presença, e o futuro é apenas uma promessa.
E, ainda assim, há algo de belo nesta impermanência. Tudo que foi vivido deixou marcas não apenas no corpo, mas também na alma. Essas marcas se renovam a cada dia, como se o coração e a mente se reconstruíssem com os pedaços do que fomos, criando versões mais fortes e mais conscientes de nós mesmos.
A vida, no fim das contas, é um constante equilíbrio entre o que fomos, o que somos e o que desejamos ser. O tempo, apesar de implacável, também é generoso ao nos dar a oportunidade de recomeçar, de sonhar, e de encontrar significado nas incertezas que ele traz. Talvez seja isso que nos mantém em movimento: a esperança de que, mesmo diante do desconhecido, há sempre algo esperando para ser vivido, sentido e transformado em memória.
Por vezes, me pego imaginando como seria se o tempo pudesse retroceder. Não apenas voltar em linha reta, mas me transportar de volta àquelas estações já vividas, aos momentos em que a vida parecia mais simples, ou talvez, mais plena. Nessas reflexões, vejo-me como era, com os olhos carregados de sonhos ainda intactos, o coração pulsando com a energia de quem acredita que o amanhã é uma certeza, e não uma incógnita. Mas não demora muito para que a realidade me desperte, trazendo consigo a constatação inevitável: aquela pessoa que fui, com todas as suas nuances, já não existe mais. O tempo a levou, silencioso e certeiro, deixando apenas as memórias como prova de sua passagem.
E aqui estou, no presente, este instante fugaz que, ao mesmo tempo, carrega todo o peso da vida. É curioso como o presente pode ser tão concreto e, ainda assim, parecer escorregadio. É nele que habito, que enfrento desafios e saboreio pequenas vitórias, mas ele também me exige força, pois traz consigo a responsabilidade de lidar com as marcas deixadas pelo passado e com as incertezas projetadas no futuro.
O futuro… Ah, ele é uma figura curiosa. Às vezes, é um campo fértil, onde planto meus sonhos, esperando que um dia floresçam. Em outras, é uma névoa densa, onde cada passo parece incerto, e os sonhos se transformam em sombras que escorrem entre os dedos. Há dias em que ele me inspira, me impulsiona a avançar, e outros em que me assusta, com a incerteza de sua natureza. O futuro é, afinal, uma promessa que nunca vem com garantia. Ele é, para muitos de nós, um reflexo daquilo que nossa mente projeta: ora esperança, ora medo, ora ambos ao mesmo tempo.
Então, volto-me para o espelho. Lá está minha imagem, refletindo não apenas meu rosto, mas as marcas do tempo. Vejo linhas que contam histórias: algumas felizes, outras dolorosas, todas reais. É nesse reflexo que me encontro com o passado e, simultaneamente, com o presente. Há um misto de nostalgia e aceitação, como se cada marca fosse uma assinatura da vida em minha alma, um lembrete de que eu vivi, senti e me transformei.
A nostalgia tem um gosto suave. Ela me envolve com a suavidade de uma lembrança boa, mas logo me puxa de volta, fazendo-me sentir o peso daquilo que não pode ser revivido. No entanto, há algo reconfortante nisso. Percebo que a vida é feita de ciclos, e que cada momento vivido foi, de alguma forma, pleno em seu tempo. Mesmo os instantes mais difíceis deixaram lições, transformaram meu coração e moldaram minha essência.
E é assim que sigo: vivendo entre o passado que me formou, o presente que me desafia e o futuro que me intriga. Talvez essa seja a essência da vida, um equilíbrio instável entre o que foi, o que é e o que poderá ser. Aceitar essa fluidez é um exercício diário, mas também uma fonte de esperança. Pois, apesar de todas as incertezas, o tempo também nos presenteia com a oportunidade de recomeçar. Ele nos permite revisitar nossas marcas e transformá-las, nos dá espaço para sonhar e força para acreditar que o futuro, mesmo nebuloso, guarda algo de bom.
No fim, a vida é um ato contínuo de reconstrução. Cada dia é uma chance de criar novas memórias, renovar sonhos e encontrar sentido nas marcas que carregamos. O que importa não é voltar no tempo, mas perceber que, mesmo com o passar dos anos, há algo dentro de nós que permanece intacto: a capacidade de sentir, de amar e de se reinventar, sempre.
O tempo, em sua caminhada silenciosa, não espera por ninguém. Ele nos carrega, dia após dia, enquanto vamos acumulando histórias, sonhos, quedas e aprendizados. E mesmo quando nos pegamos desejando voltar, ele nos ensina, em sua maneira sutil, que o passado foi importante, e cada instante vivido permanece em nós, não como algo que pode ser revivido, mas como algo que nos molda, nos impulsiona, nos torna quem somos.
Ainda assim, há dias em que a saudade aperta. É inevitável sentir falta de quem fomos ou dos momentos em que a vida parecia mais leve. Mas, ao invés de me perder no que já passou, tento ressignificar esse sentimento. A nostalgia não precisa ser vista como uma prisão. Ela pode ser uma ponte, um elo entre o que fui e o que sou, um lembrete de que, apesar de todas as mudanças, há uma essência em mim que resiste, que persiste.
Quando olho para frente, para o futuro que me espera, tento encará-lo com mais ternura. Ele não é uma ameaça, mas uma página em branco. E, embora a incerteza ainda me cause receio, também vejo nela uma promessa: a possibilidade de criar, de recomeçar, de continuar a trilhar meu caminho. Pois o futuro, por mais desconhecido que seja, é um território onde tudo pode acontecer, desde que eu esteja disposto a dar o próximo passo.
No fim das contas, a vida é uma dança entre o ontem, o hoje e o amanhã. Cada passo importa. Cada memória carrega um sentido. E o espelho, que reflete minhas marcas, também reflete a força que me trouxe até aqui. O tempo não é meu inimigo; é meu companheiro de jornada, e a ele agradeço por cada dia vivido, por cada lição aprendida, e por cada nova chance de continuar.