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ENTRE O AMOR E O ORGULHO

O que deveria ser eterno encontrou seu fim em um dia frio de inverno. O vento cortante trouxe consigo o silêncio de uma despedida não anunciada, o peso de palavras não ditas e o eco de lembranças que agora se dissipam como névoa ao amanhecer. Foram momentos de grandes emoções, onde o coração, esse eterno conspirador dos destinos, tornou-se o grande vilão de nossa história.

Nunca ousamos refletir sobre o passado. Seguimos em frente, cegos pela euforia do presente, como se o tempo fosse nosso aliado e o futuro, uma promessa inquebrantável. Nossa alegria fluía como um rio impetuoso, buscando com pressa o encontro com o mar. Mas nem todo rio alcança seu destino. Alguns se perdem pelo caminho, evaporam ao sol, são desviados por barreiras intransponíveis. Foi assim conosco.

Quando percebemos, já estávamos distantes demais. Caminhamos em sentidos opostos, cada um carregando sua bagagem de sentimentos e incertezas, cada um buscando um caminho que nos levasse para longe da dor. A ruptura foi inevitável, e com ela vieram os danos irreparáveis, as feridas invisíveis que nem o tempo, nem o esquecimento conseguem curar por completo.

O orgulho cegou nossas mentes, nos impediu de recuar, de reconhecer nossos erros, de tentar reconstruir o que ainda poderia ser salvo. Fomos desafiados por nós mesmos, pela teimosia de provar que podíamos seguir adiante sem olhar para trás. Mas há batalhas que não se vencem pela força, e sim pela rendição. E nós, teimosos e feridos, nos recusamos a nos render um ao outro.

No limite de nossas forças, a fraqueza se fez senhora dos nossos pensamentos. O cansaço emocional nos envolveu como um nevoeiro denso, apagando a clareza dos sentimentos, confundindo-nos entre o que queríamos e o que achávamos que deveríamos querer. Quantas vezes nos perguntamos, em silêncio, se era realmente o fim? Mas o silêncio, esse cruel conselheiro, nunca trouxe respostas, apenas ecoou nossas incertezas.

O inverno passou, mas o frio permaneceu. O vazio da ausência se tornou um companheiro constante, lembrando-nos do que um dia foi e já não é mais. Não há mais passos ecoando no mesmo caminho, não há mais olhares cruzando-se no meio da multidão. Agora, restam apenas lembranças dispersas, pedaços de uma história interrompida, fragmentos de um amor que, um dia, acreditamos ser eterno.

Talvez a vida seja mesmo um ciclo de encontros e despedidas, de amores que florescem e depois se desfazem como folhas ao vento. E talvez, em algum outro tempo, em algum outro lugar, sejamos menos orgulhosos, menos apressados, mais dispostos a ouvir o que o coração realmente tem a dizer. Até lá, seguimos cada um por seu próprio caminho.

O tempo passou, mas a dor ainda se esconde nos pequenos detalhes do dia a dia. A ausência se tornou uma sombra discreta, mas sempre presente. Às vezes, em um instante qualquer, um cheiro familiar ou uma música ao acaso trazem de volta memórias que eu tento evitar. São lembranças vivas, intactas, como se tivessem sido gravadas no próprio tecido da minha existência.

Nos primeiros dias, tentei me convencer de que era melhor assim. Disse a mim mesmo que tudo acontece por um motivo, que a vida segue seu curso natural, que há coisas que simplesmente não eram para ser. Mas, no fundo, essas palavras não passam de tentativas fracas de enganar o coração. Porque a verdade é que, em algum lugar dentro de mim, ainda existe a pergunta que nunca terá resposta.  “E se tivéssemos tentado mais um pouco”

Nosso amor foi intenso, mas também frágil. Cresceu rápido demais, como fogo em folhas secas, brilhando forte, consumindo tudo ao redor, até não sobrar nada além de cinzas. Talvez tenha sido essa pressa o nosso erro. Talvez devêssemos ter regado esse sentimento com mais paciência, com mais compreensão. Mas, no calor do momento, éramos apenas emoção, sem espaço para reflexões.

O orgulho foi a última peça que restou quando tudo começou a desmoronar. Nenhum de nós queria ceder, nenhum de nós quis dar o primeiro passo para reconstruir o que estava se quebrando. E assim, como dois navios à deriva, nos afastamos lentamente, até que a distância se tornou grande demais para ser cruzada.

E agora, seguimos por caminhos diferentes, tentando encontrar novos começos, novas histórias e novas razões para sorrir. Mas, no silêncio das noites mais frias, é impossível não pensar no que fomos. Não há mais mensagens inesperadas, nem ligações no meio da noite. Não há mais aquele olhar que dizia tudo sem precisar de palavras.

O mundo continua girando, as pessoas continuam vivendo, e eu também sigo, como se estivesse inteiro. Mas sei que há partes de mim espalhadas no passado, perdidas em momentos que nunca voltarão.

Talvez, um dia, a dor desapareça por completo. Talvez eu aprenda a lembrar sem sentir aquele aperto no peito. Talvez, quando nos encontrarmos novamente , se isso acontecer possamos sorrir sem pesar, sem arrependimentos, sem aquele vazio que só quem já perdeu algo valioso entende.

Até lá, sigo tentando. Tentando esquecer sem apagar. Tentando seguir sem ignorar. Tentando entender que algumas histórias, por mais bonitas que sejam, não foram escritas para durar para sempre.

Mas, mesmo sabendo disso, ainda guardo um espaço em mim para o que fomos. Porque, apesar de tudo, houve amor. E isso, por si só, já faz valer a pena lembrar.

Os dias continuam passando, um após o outro, como páginas de um livro que não posso fechar. Ainda que eu tente seguir adiante sem olhar para trás, algumas memórias insistem em permanecer. Não porque eu queira revivê-las, mas porque fazem parte de quem me tornei.

Aprendi que certas ausências nunca se preenchem completamente. Podemos seguir em frente, encontrar novos caminhos, conhecer outras pessoas, mas algumas marcas simplesmente ficam. Não para nos machucar, mas para nos lembrar do que um dia significou tanto.

Já não espero respostas. Não espero reencontros, nem segundas chances. Não porque o amor tenha se apagado, mas porque compreendi que algumas histórias precisam terminar para que outras possam começar. Há um tempo para tudo: para o encontro, para o aprendizado, para a despedida. E agora, é tempo de aceitar.

Ainda assim, se o destino algum dia cruzar novamente nossos caminhos, espero que possamos sorrir um para o outro sem dor, sem culpa, sem mágoas. Espero que, ao olharmos para trás, possamos reconhecer que, apesar de tudo, fomos parte de algo bonito, ainda que breve.

A vida segue, e eu sigo com ela. Não mais esperando reviver o passado, mas carregando comigo tudo o que ele me ensinou. Porque, no fim, o amor não se mede pelo tempo que dura, mas pelo quanto transforma. E por mais que nossa história tenha chegado ao fim, sei que, de alguma forma, ela viverá para sempre dentro de nós.

E assim, sem arrependimentos, sem amargura, apenas com gratidão pelo que foi, fecho este capítulo. E sigo em frente na minha jornada.

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