AS CORRENTEZAS DA ALMA
O que reside em mim, o que flui do meu interior, o que emana do meu coração, escoa como um rio calmo e tranquilo, e seus ribeiros seguem margeando o caminho com um toque suave. Esse fluxo é constante e renovador, revelando-se a cada passo, trazendo uma beleza singular que se desdobra em cada estação do ano. Assim como as águas que se movem sem pressa, mas com propósito, também minha alma se deixa guiar pelo sopro do Criador, que nutre e fortalece, que conduz e transforma.
No inverno, o rio adquire um brilho sereno, refletindo a paz de quem sabe esperar, de quem confia na promessa da primavera. A friagem não interrompe seu curso; pelo contrário, ensina a beleza do recolhimento, do silêncio e da preparação. Então, com a chegada da primavera, às margens florescem, e tudo ganha vida novamente. O perfume das flores misturado ao frescor das águas revela a esperança renascida, o amor que nunca cessa, o cuidado divino que sustenta cada pequeno detalhe. No verão, as correntezas brilham sob a luz intensa do sol, simbolizando a plenitude, os momentos de intensidade e celebração. O outono, por sua vez, traz consigo a reflexão, o desprendimento necessário para que novos ciclos se iniciem, para que a alma se renove e aprenda a encontrar beleza na transformação.
Não é um percurso linear; o rio tem suas curvas, seus desvios inesperados, seus trechos de calmaria e também suas quedas. Mas em cada reviravolta, há um aprendizado, uma surpresa, um novo motivo para sorrir ou para deixar que as lágrimas corram livres, lavando o que precisa ser purificado. Às vezes, as águas se agitam, anunciando tempestades passageiras. Outras vezes, são espelhos de cristal, refletindo o céu em sua imensidão.
Por onde passa, esse rio deixa marcas de vida. Suas margens são testemunhas de encontros, de promessas sussurradas ao vento, de momentos compartilhados sob o olhar atento do Criador. Nele, os corações se entrelaçam, envoltos na paz e no amor divino, aprendendo que o verdadeiro caminho é aquele trilhado com esperança e confiança.
E assim, sigo adiante, deixando-me levar por esse fluxo sagrado que me conecta ao eterno, que me ensina a contemplar a beleza dos pequenos detalhes, a dançar com as mudanças, a descansar na certeza de que cada curva tem seu propósito. Pois o rio que flui em mim não é apenas um curso d’água: é a própria essência do amor que me sustenta, é o reflexo da graça que me alcança, é a presença divina que me guia rumo ao infinito.
Esse rio também encontra afluentes, outras almas que se unem ao seu curso, compartilhando da mesma fonte inesgotável de vida e esperança. Cada afluente traz uma história, uma experiência, um novo elemento que enriquece a jornada. Há momentos em que os caminhos se cruzam e, por instantes ou para sempre, correm lado a lado, aprendendo e ensinando, acolhendo e sendo acolhidos.
O rio, em sua jornada, não teme os obstáculos. Se encontra uma rocha, aprende a contorná-la; se uma montanha se interpõe, cava seu caminho com paciência e determinação. Assim também é a vida: não se trata de evitar desafios, mas de encontrar maneiras de seguir adiante, sempre impulsionado pelo propósito maior.
As águas do rio carregam histórias. Algumas gotas já percorreram longas distâncias e trazem consigo a sabedoria dos caminhos trilhados. Outras são novas, recém-chegadas da nascente, cheias de energia e descoberta. Mas todas fazem parte do mesmo fluxo, unidas pelo mesmo destino. Assim também somos nós, partes de uma corrente maior, conectados pelo mesmo Criador, fluindo em harmonia em direção à eternidade.
O tempo avança, e o rio segue. Em alguns trechos, ele se expande, tornando-se largo e majestoso, permitindo que suas águas se espalhem e alcancem terras distantes. Em outros momentos, se estreita, passando por gargantas apertadas, onde a força da corrente se intensifica. Mas em nenhum instante ele deixa de avançar, pois sabe que sua essência é o movimento, e seu destino é o encontro com o mar infinito.
Esse rio é também espelho da minha própria jornada. Sou as águas que fluem, que se transformam, que aprendem a contornar os obstáculos sem perder a essência. E mesmo quando me deparo com corredeiras impetuosas, sei que a mão do Criador me conduz com segurança.
Que esse rio nunca cesse de correr dentro de mim, que sua canção continue a embalar minha alma, que suas margens continuem a florescer e a testemunhar a grandiosidade do amor divino. Pois enquanto houver correnteza, há vida; e enquanto houver vida, há esperança.
E quando finalmente esse rio encontrar o oceano, quando suas águas se fundirem ao infinito, saberei que completei minha jornada. Será o encontro definitivo com a fonte de onde tudo veio e para onde tudo retorna. Nesse instante, todas as correntezas farão sentido, todas as curvas revelarão seu propósito, e a paz será completa. Pois o rio nunca se perde, apenas se transforma, e retornamos ao ponto de partida unindo assim ao Criador para sempre.