A FIDELIDADE DOS ESCOLHIDOS
Ao longo dos anos, temos percebido cada vez mais que a nossa fé é provada a todo instante. O caminhar com Cristo não é um passeio por campos tranquilos, mas uma jornada em meio a lutas, provações e constantes decisões. O cenário atual da igreja, infelizmente, revela que, mesmo entre os que se reúnem para cultuar o nome do Senhor, há um desvio iminente da verdadeira essência do evangelho. Vivemos dias em que a aparência da piedade tem muitas vezes tomado o lugar da verdadeira transformação de vida que o evangelho produz.
Na reunião dos santos há homens e mulheres separados por Deus para viverem em santidade encontramos um paradoxo espiritual. No mesmo ambiente em que se entoam louvores sinceros e se prega a Palavra com verdade, também se infiltram aqueles que têm intenções distorcidas. Jesus já nos alertava sobre isso quando disse que no campo haveria tanto o trigo quanto o joio (Mateus 13:24-30), e que somente na colheita eles seriam separados. Isso significa que, até o tempo determinado por Deus, o verdadeiro e o falso caminharão lado a lado.
É por isso que precisamos de discernimento espiritual. Os lobos em pele de cordeiro não se apresentam como inimigos da fé, mas como companheiros de caminhada. Eles falam como nós, se vestem como nós e, muitas vezes, estão nas mesmas posições de influência e liderança. Contudo, com o tempo, suas obras os revelam, pois “pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus 7:15-20). O Espírito Santo é quem capacita os verdadeiros filhos de Deus a permanecerem vigilantes e fieis.
Apesar disso, aquele que é nascido de Deus não se deixa abalar. Sua fé não depende do ambiente ou da companhia, mas de uma convicção interior produzida pelo novo nascimento. Como afirmou o apóstolo João: “Todo aquele que é nascido de Deus vence o mundo” (1 João 5:4). A porta estreita, que para muitos é motivo de tropeço, para o verdadeiro discípulo é caminho de vida. Ele não se intimida diante das dificuldades, pois sabe em quem tem crido. Sua esperança não está na aceitação dos homens, mas na aprovação de Deus.
O escolhido permanece firme porque entende que foi chamado para algo maior. Ele não se conforma com este mundo, mas é transformado pela renovação da sua mente (Romanos 12:2). Ele não busca o evangelho do conforto, mas o evangelho da cruz. E mesmo que seja difícil, doloroso e solitário, ele sabe que o seu destino final não é este mundo, mas o Reino eterno preparado para os que amam ao Senhor.
Em tempos de mistura, engano e superficialidade, que possamos ser encontrados como trigo, como ovelhas do Bom Pastor, como luz no meio das trevas. Que a nossa fé, mesmo provada pelo fogo, seja achada em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo (1 Pedro 1:7).
É nesse cenário de tensão espiritual e aparente contradição que a verdadeira igreja de Cristo é forjada e purificada. Deus nunca prometeu que o ambiente eclesiástico seria livre de conflitos ou isento de infiltrações. Pelo contrário, as Escrituras revelam que desde os tempos apostólicos já havia falsos mestres e falsos irmãos se introduzindo no meio do povo com o propósito de desviar os corações dos simples (2 Pedro 2:1-3; Judas 1:4). A presença do joio em meio ao trigo não é um acidente: é uma realidade permitida por Deus até o tempo da ceifa.
Mas qual deve ser a postura do verdadeiro cristão diante dessa realidade; Em primeiro lugar, vigilância. Jesus advertiu Seus discípulos: “Acautelai-vos dos falsos profetas” (Mateus 7:15). Vigilância implica estar atento à doutrina, ao caráter e ao fruto daqueles que se dizem ministros ou irmãos. Em segundo lugar, perseverança. O fato de estarmos cercados por exemplos negativos não pode nos desanimar nem nos afastar do caminho. O apóstolo Paulo, mesmo traído e abandonado por muitos, manteve sua confiança no Senhor, dizendo: “O Senhor, porém, me assistiu e me fortaleceu” (2 Timóteo 4:17).
A fé autêntica se mostra justamente nesses momentos, quando tudo ao redor parece contrário, mas mesmo assim permanecemos firmes. O nascido de Deus não vive por vista, mas por fé (2 Coríntios 5:7). Ele sabe que a jornada cristã é estreita, mas também sabe que ela conduz à vida eterna. A porta é apertada, o caminho é árduo, e poucos o encontram, mas ele continua, porque sua esperança está além do presente.
Outro aspecto essencial nessa caminhada é o amor pela verdade. O amor pela verdade é o que distingue os filhos da luz dos filhos das trevas. Aqueles que verdadeiramente nasceram de Deus não se satisfazem com um evangelho diluído, emocional ou centrado no homem. Eles anseiam pela Palavra pura, pelo alimento sólido, pelo ensino que confronta e transforma. O Espírito Santo em seus corações os conduz a toda a verdade (João 16:13), e é por isso que não se deixam enganar facilmente. Quando escutam a voz do verdadeiro Pastor, reconhecem e seguem, mas a voz do estranho não seguirão (João 10:4-5).
Além disso, o verdadeiro cristão é marcado pela santidade. Em meio a uma geração corrompida, ele brilha como luzeiro no mundo (Filipenses 2:15). Não se conforma com os padrões deste século, nem com os modismos religiosos. Ele entende que foi separado para ser santo, como santo é o Senhor (1 Pedro 1:16). Essa santidade não é exibicionista, mas interior, autêntica, e fruto da comunhão diária com Deus.
Em tempos de superficialidade espiritual, onde muitos querem os milagres do Reino, mas não o Senhorio de Cristo, ser verdadeiro é um ato de coragem. Requer renúncia, firmeza e confiança plena na fidelidade de Deus. O joio crescerá até o tempo determinado, os lobos continuarão a se disfarçar, mas os verdadeiros filhos serão preservados. Aqueles que pertencem a Cristo ouvirão o chamado final e herdarão o Reino preparado desde a fundação do mundo (Mateus 25:34).
Portanto, não desanime se você percebe que nem todos ao seu redor têm o mesmo coração voltado a Deus. Permaneça fiel, vigilante e cheio do Espírito. Pois, no final, o Senhor mesmo separará os Seus, e grande será a recompensa dos que perseverarem até o fim.
Diante de tudo isso, torna-se evidente que a fé cristã genuína não pode ser vivida de maneira passiva. Ela exige discernimento, resistência e paixão constante por Deus. Aquele que verdadeiramente nasceu do alto não se contenta com uma vida religiosa rotineira, mas busca intimidade com o Pai. Ele compreende que o maior perigo não está apenas nas perseguições externas, mas na frieza espiritual, na acomodação e no engano disfarçado de piedade.
Nos últimos tempos, o amor de muitos tem se esfriado (Mateus 24:12), e o número dos que permanecem firmes parece diminuir. Mas a Palavra nos encoraja: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Apocalipse 2:10). Essa promessa é o combustível da perseverança dos santos. Os verdadeiros discípulos não vivem pela aprovação dos homens, mas pela expectativa da glória eterna que será revelada. Eles entendem que o caminho da cruz precede a coroa, e que a fidelidade a Deus vale mais do que qualquer sucesso terreno.
Portanto, mesmo em meio ao joio, aos lobos e à corrupção do evangelho, há um remanescente fiel. Há aqueles que não dobram os joelhos diante de Baal, que não se vendem, que não negociam a verdade. São homens e mulheres cheios do Espírito, amantes da Palavra, comprometidos com a santidade. Estes, sim, são os escolhidos, os que brilharão como o sol no Reino do seu Pai (Mateus 13:43).
Que sejamos contados entre eles. Que, ao final da jornada, possamos ouvir do nosso Senhor: “Muito bem, servo bom e fiel… entra no gozo do teu Senhor” (Mateus 25:21). E que, mesmo que tudo ao redor desmorone, permaneçamos firmes, convictos e confiantes, certos de que fomos chamados, escolhidos e guardados por aquele que nunca falha.