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O CONSELHO DO TEMPO

 Há um conselho poderoso no tempo, e nem  é preciso das entrelinhas, pois ele é claro em seus propósitos. Ele passa, e ao passar, leva muito de nós, das nossas histórias e dos nossos sonhos. É implacável e discreto; seus passos se estendem pelo horizonte e se dissipam, fugazes, no vento.
O tempo não fala alto, mas ensina com firmeza. Ele não impõe, apenas segue e nesse seguir, revela o quanto somos passageiros diante da eternidade. Em seu silêncio, ele aconselha a viver o agora com plenitude, pois o instante que escapa jamais retorna.

Há dias em que ele parece demorar, como se nos desse a chance de respirar entre as dores e os recomeços. Em outros, corre veloz, como um rio em enchente, arrastando o que tentamos segurar. O tempo é justo, ainda que não pareça,ele entrega a cada um o que semeia  amadurece frutos, apaga feridas, mas também mostra o que deixamos de fazer por medo ou distração.

Ele não se deixa comprar, nem se dobra aos desejos humanos. E, no entanto, é generoso, sempre nos concede um novo amanhecer, uma nova página, uma nova chance de recomeçar. O tempo é o mestre que nos molda em silêncio, que suaviza as arestas do orgulho e ensina a arte da paciência. É ele quem transforma a dor em sabedoria, o pranto em lembrança, e a lembrança em gratidão.

Quando tentamos correr à frente dele, nos perdemos; quando o desprezamos, ele nos ensina o valor da espera. O tempo não é inimigo é aliado dos que sabem observar. Quem aprende a escutar o seu ritmo descobre o equilíbrio entre o que deve ser deixado para trás e o que ainda pode florescer.

Há um momento em que ele se torna espelho mostra o quanto crescemos, o que ainda falta curar, o que de fato importa. Ele nos recorda que tudo o que é belo tem seu ciclo nasce, floresce e, enfim, se recolhe. E, mesmo no fim, há beleza, porque o tempo transforma tudo em eternidade dentro da memória.

Assim, deixo que ele me conduza. Já não luto contra as horas nem me desespero com os minutos. Caminho com o tempo, aceitando seus conselhos disfarçados de mudanças. Porque entendi, enfim, que o tempo não leva tudo  ele apenas depura, lapida e devolve, em forma de sabedoria, aquilo que um dia chamamos de perda.

E quanto mais o tempo passa, mais percebo que ele não é apenas um contador de dias, mas um escultor de almas. Ele trabalha com paciência, retirando o excesso, suavizando as imperfeições, revelando aos poucos a forma verdadeira do que somos. No começo, resistimos e reclamamos das perdas, das despedidas, das rugas que surgem como marcas de suas lições. Mas com o passar das horas e dos anos, aprendemos que cada marca é um testemunho da vida que ousamos viver.

O tempo não nos pede pressa, pede entrega. Ele convida à observação, ao sentir, ao compreender o valor do instante. Ele nos mostra que nada é permanente, e é justamente essa impermanência que dá sentido à existência. Se tudo fosse eterno, talvez o amor não tivesse urgência, nem a bondade o mesmo brilho. O tempo, ao limitar, dá sabor. Ao passar, ensina o valor da presença.

Há um poder silencioso no tempo que ele não se anuncia, mas tudo nele se cumpre. Aquilo que hoje parece perda, amanhã se revela libertação. Aquilo que ontem nos feriu, hoje se torna força. O tempo é um jardineiro invisível, que poda o que não frutifica e faz florescer o que parecia morto. É ele quem transforma o inverno em primavera, o pranto em riso, o fim em recomeço.

Muitas vezes, olhamos para trás e lamentamos o que não foi. Esquecemos, porém, que o tempo não falha, ele apenas segue a ordem que a vida precisa. Há sonhos que precisam amadurecer antes de nascerem, há caminhos que só se abrem quando o coração aprende a esperar. O tempo não é atraso, é preparo.

E nesse preparar, ele nos convida à reflexão. Quantas vezes tentamos deter o inevitável. Quantas vezes lutamos contra a mudança, sem perceber que ela é a própria essência da vida. O tempo é o guardião da transformação. Ele não destroi, ele renova. Tudo o que resiste a ele se parte tudo o que o aceita floresce de novo, em outra forma, em outro ritmo.

O tempo é também um espelho que reflete o nosso interior. Quando o coração está em paz, as horas passam suaves; quando há inquietude, cada minuto parece um peso. Assim, o tempo revela o estado da alma. Ele não é cruel nem benevolente, apenas nos devolve aquilo que depositamos nele.

Aprendi que não adianta correr. As estações têm seu próprio ciclo, e a vida também. Há uma hora de plantar e uma de colher, uma de permanecer e outra de partir. O tempo ensina que o amor verdadeiro não se apressa, que o perdão precisa de maturação, e que a sabedoria vem depois da tempestade.

Por vezes, ele nos coloca diante do espelho do passado, não para nos prender a ele, mas para nos lembrar do quanto já superamos. O tempo é testemunha das batalhas travadas em silêncio, das lágrimas derramadas sem plateia, das vitórias que ninguém viu. Ele carrega, dentro de si, a história da nossa coragem.

E quando finalmente compreendemos que o tempo não é contra nós, mas por nós, tudo se acalma. Passamos a viver com mais leveza, a agradecer mais e reclamar menos. Entendemos que as horas não são inimigas são sementes. Cada amanhecer é uma nova chance de florescer onde ontem só havia dor.

O tempo não espera, mas também não abandona. Ele apenas segue, confiando que, no momento certo, aprenderemos o que viemos aprender. E quando o dia chega ao fim, e a noite se deita sobre os nossos pensamentos, é o tempo que nos embala com o consolo de que nada foi em vão. Cada segundo foi necessário para nos fazer chegar até aqui  mais fortes, mais conscientes, mais humanos.

Assim, sigo em paz com o tempo. Ele já não me apavora com seus silêncios nem me oprime com sua pressa. Caminhamos juntos ele com sua sabedoria antiga, eu com meu coração em aprendizado. Porque o tempo não é apenas o que passa, é o que fica. Fica no que se aprende, no que se ama, no que se torna eterno dentro de nós.

E quando o tempo decide silenciar, é porque quer que ouçamos o coração. Ele nos ensina que há momentos em que é preciso apenas estar  sem correr, sem fugir, apenas existir. O tempo é o guardião dos recomeços; ele nos permite cair e levantar, errar e aprender, amar e reamar. E assim seguimos, entre partidas e chegadas, percebendo que cada fim contém um novo início.

No fim das contas, o tempo não leva o que é verdadeiro, apenas o que não tinha raiz. O que permanece é o amor, é a fé, é a lembrança boa que ilumina a alma quando tudo ao redor escurece. Ele transforma o que era dor em sabedoria, o que era perda em reencontro, o que era vazio em gratidão.

Hoje compreendo que o tempo não me rouba, ele me devolve a mim mesma. Cada estação que passa revela um pouco mais do que sou, e cada amanhecer traz a promessa de um novo aprendizado. Assim, caminho com o tempo sem pressa, sem medo aceitando seu conselho silencioso. Porque no fim, o tempo é a própria vida em movimento, e viver é aprender a abraçar o instante antes que ele voe com o vento.

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